sábado, 11 de junho de 2011

Resenha: OLHOS DE FALCÃO - Alex Barclay

(Originalmente postada no extinto blog Gotas Humanas)

Há várias formas de se qualificar um livro, mas, para fins de simplicidade, vamos apelar aos extremos: há livros que amamos e livros que odiamos. Difícil quantificar a gama de fatores que nos levam a adorar ou detestar uma obra literária, mas, em se tratando de policial, podemos citar alguns mais óbvios: trama, personagens, narração, suspense. Enfim, como falei, há livros que amamos e livros que odiamos. E também há livros que... que... bem, que são como "Olhos de Falcão" (Bertrand Brasil, 445 páginas).

A trama começa a se desenrolar em Nova Iorque, durante um sequestro que termina de maneira trágica, com a morte do criminoso Donnie Riggs pelo policial Joe Lucchesi. Um ano depois, ele e sua família estão refugiados numa vila na Irlanda, longe dos problemas da civilização. Até que a namorada de seu filho desaparece. É então que a sombra de um violento psicopata passa a espreitar a vida dos Lucchesi.

Achei o livro bom. E só isso. A irlandesa Alex Barclay criou uma história de vingança extremamente simples, cujo maior mérito, pode-se dizer, repousa na fluidez da narrativa. Os "cortes" (espaçamentos um pouco maiores entre parágrafos, que geralmente caracterizam mudança no ponto de vista) são constantes, chegando, em alguns momentos, a aparecer quatro vezes numa mesma página. Dessa forma, a tendência é que o livro seja lido bem rápido (quando não se está em semana de provas na faculdade, claro...). O recurso certamente é válido nesse sentido, criar dinâmica, e vale lembrar que o mestre Stieg Larsson utilizou-o a exaustão nos dois últimos livros da trilogia Millenium. No entanto, aqui e ali a coisa não me parece funcionar bem.

Mas isso não se deve a estratégia narrativa de Barclay, e sim a seus personagens. O protagonista Joe Lucchesi não me inspirou nenhum outro sentimento que não a indiferença e raiva, e isso é um grande problema em se tratando do "herói" da história. Seu filho Shaun, que deveria inspirar no mínimo simpatia, consegue empatar com a Bella da série "Crepúsculo" no quesito chatice: a vontade que tive ao ler suas sequências foi de segurá-lo pelos ombros e sacudi-lo, tal e qual Dom Corleone, gritando: "You act like a man, LIKE A MAN!". E a enorme quantidade de outros personagens que cruzam as páginas de "Olhos de Falcão" jamais é propriamente desenvolvida. Exceto - e este considero um trunfo da autora - o vilão, Duke Rawlins, cuja história é narrada juntamente com a de seu melhor amigo Donnie Riggs paralelamente a trama principal. Não apenas um bom recurso para criar suspense e expectativa, essa "história por trás da história" trás sequências extremamente violentas, narradas pela autora com uma sequidão no mínimo curiosa. Fico na dúvida sobre elas: enquanto alguns podem acusar Barclay de não conseguir transmitir a intensidade a elas inerente, outros certamente poderão argumentar que a falta da mesma, em detrimento ao relato seco e direto, foi uma escolha consciente para causar incômodo. Tomando o livro como um todo, minha tendência é acreditar mais na primeira alternativa.

Pois a falta de sentimento em "Olhos de Falcão" é uma constante: a impressão que se tem em diversos momentos é de se estar lendo um roteiro, e com isso certamente contribuem a grande quantidade de cortes. Outro ponto fraco é a total - TOTAL - inabilidade da autora de descrever locações. O farol, por exemplo, onde ocorre grande parte do clímax, aparece pela primeira vez no início do livro, e é impossível visualizá-lo com clareza, o que atrapalha a recepção de muitas das cenas. No fim, é pela trama que o livro se safa. O final guarda uma surpresa interessante que confesso não ter previsto - mas mesmo aí Barclay erra a mão: a coisa é simplesmente jogada e pronto. E, claro, tudo fica armado para uma continuação da série, que já saiu lá fora. "Olhos de Falcão" apresenta um raro equilíbrio entre "bom" e "ruim" que não me fez adorá-lo nem odiá-lo. Ficou na meiuca. Pena.

Menção mais do que merecida: QUE BAITA CAPA. Só falo isso. Todo o livro, aliás, está muito bonito, as páginas pintadas de vermelho sangue. Parabéns a Bertrand, que dificilmente erra nas capas, verdade seja dita.

Boas leituras.

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