sábado, 11 de junho de 2011

Resenha: AURORA BOREAL - Asa Larsson

(Originalmente postada no extinto blog Gotas Humanas)

Os suecos estão comandando o cenário policial mundial. Mesmo antes do estrondoso sucesso da Trilogia Millenium, do já falecido Stieg Larsson, autores daquela gelada região já davam mostras de talento ao redor do mundo (não tanto no Brasil, claro, já que pouquíssima coisa é lançada por aqui, infelizmente). Mas é inegável que foi o retorno gerado por Larsson abriu os olhos para a prolífera Suécia. Prova disso são os dois novos lançamentos da Editora Planeta: "A Princesa de Gelo", da Camilla Lackberg, e este "Aurora Boreal", da Asa Larsson.

A trama se passa na gelada cidade de Kiruna, onde uma celebridade local, Viktor Strandgrand, é assassinado brutalmente na imponente Igreja de Cristal. Viktor se tornara famoso anos antes, ao escrever um livro que retratava sua experiência de quase morte e como teria subido aos céus. Sua vida era dedicada ao serviço cristão. Rebeka Martinsson, advogada da capital, recebe então um pedido de ajuda da irmã da vítima, Sanna, considerada a principal suspeita do crime.

"Aurora Boreal" é oito ou oitenta, gostar ou odiar. Sinceramente, gostei. E isso não se deve a uma ótima história, personagens carismáticos, reviravoltas impressionantes. O que me fez permanecer preso no livro foi basicamente a narração. Larsson se mostra completamente solta, não prendendo o ponto de vista a ninguém em particular, intercalando passagens no pretérito perfeito (geralmente o padrão) com outras no presente do indicativo - e estas encontram-se tanto no presente, acompanhando a trama linearmente, quanto no passado, mostrando certos trechos da vida pregressa de Rebeka Martinsson em Kiruna. O artifício é gratuito e, em certa medida, desnecessário? Sim, completamente. Mas gostei da forma como foi utilizado. Nunca antes havia lido algo escrito dessa maneira, no mínimo incomum.

O ritmo de "Aurora Boreal" também representa um ponto de ruptura entre o grupo dos que gostaram e o dos que detestaram. A impressão que se tem é de que as coisas não se movem, a investigação fica parada, ninguém encontra pistas. E isso é realmente verdade: o trabalho policial foi no mínimo mal explorado pela sueca. De todo modo, a monotonia em si não atrapalhou minha degustação do livro, já que, assim como a poeta Karin Fossum e seu "Quem Tem Medo do Lobo", Larsson recompensa sua presença ao se concentrar nos personagens - que, ok, não se tornam tridimensionais ao longo do percurso do livro, não despertam em nós nada além de necessária empatia, mas ao menos se salvam de estereótipos e não soam risíveis ou pouco críveis. Ao menos não na maioria do tempo.

A trama é extremamente simples, talvez até boba, o que novamente incita certa irritação. Não há grandes revelações, nada que faça pular da cadeira ou arrepiar os cabelos; é um alívio, portanto, que a autora não apóie toda a narrativa nela. O final é satisfatório e guarda até certa dose de tensão. E a partir dele, também, que passamos a gostar e nos importar um pouco mais com Rebeka Martinsson. Nada de espetacular, no entanto. As coisas nos seus lugares e pronto. O único ponto que realmente chama a atenção é, como já disse, a narração, que é onde Asa Larsson parece se sentir mais segura.

E, claro, tudo fica arrumado para uma continuação com a mesma personagem, o que já se tornou padrão. Espero que esse segundo livro seja lançado. Gostei de "Aurora Boreal". Queria muito ter gostado mais, mas o fato é que gostei. Isso basta, certo?

Certo.

Boas leituras.

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