sábado, 11 de junho de 2011

Resenha: NEUROMANCER - William Gibson

(Originalmente postada no extinto blog Gotas Humanas)

Vamos aos fatos. 1) Nunca tinha lido nada de ficção científica até me deparar com "Neuromancer" (Aleph, 312 páginas). Como todos (os poucos) que frequentam esse humilde blog devem saber, sou aficionado pelo gênero policial e é raríssimo ler algo que fuja dessa temática; 2) "Neuromancer" foi lançado em 1984 e é considerado o livro que melhor representa o cyberpunk, subgênero sci-fi surgido nessa década, que apresenta um sombria visão do futuro, com corporações tomando o poder que deveria ser do Estado e a tecnologia moldando de forma perigosa as relações interpessoais. 3) O livro influenciou de muitas formas o que anos mais tarde viria a ser conhecido como cyber cultura, além de introduzir diversos conceitos que viriam a ser explorados na ficção científica, e ainda o são.

E eu poderia continuar aqui, listando fatos e mais fatos. "Neuromancer" e o cyberpunk são objeto até de pesquisas acadêmicas, já tendo sido tema de teses de mestrado e doutorado. Trata-se de um livro cultuado pelos amantes da ficção científica, uma obra que introduziu algo de novo ao gênero e, além de tudo, uma história fascinante.

Case é um cowboy, um hacker do ciberespaço, também conhecido como matrix. Mas comete um grave erro: tenta enganar seus contratantes após uma missão. Descoberto, é punido com o exílio, seu corpo se tornando incapaz de acessar a matrix. Seguindo para o Japão, se torna um viciado, sobrevivendo como intermediário em transações ilícitas. Em sua jornada rumo ao fundo do poço, conhece Molly, uma samurai modificada geneticamente, e seu contratante, o misterioso Armitage, que lhe oferece a chance de ser concertado, além de um trabalho, uma arriscada missão ao redor do mundo, cujos objetivos não se mostram inicialmente claros.

O universo criado por Gibson, dadas as devidas proporções, lembra aquele descrito em tantos contos e romances de mestres como Raymond Chandler e Dashiell Hammet, assim como os personagens que o habitam. O cyberpunk toma muito emprestado do noir das décadas de 40 e 50. Os personagens ambíguos (a começar pelo próprio Case), a ambientação (as cidades parecem do futuro parecem transpirar ameaças e criaturas exóticas/ameaçadoras), a trama intrincada em que todos parecem esconder algo, enfim, está tudo lá. Gibson narra de forma extremamente ágil, outra característica da literatura hardboiled - a sensação que se tem é de que ele não queria deixar o leitor respirar.

Essa agilidade narrativa, porém, não significa que "Neuromancer" tenha sido um livro fácil. Nunca antes me vi diante de um romance em que tive que parar tantas vezes a fim de tentar entender o que estava acontecendo, quem iria fazer o que, o que era tal coisa. Isso se deve às constantes menções às tecnologias presentes naquela sociedade, principalmente na área de informática (lembrem-se de que o protagonista é um hacker), as quais Gibson não economiza. Vejo nisso ponto positivo: além de nunca serem gratuitas, tendo um papel a desempenhar no desenrolar dos acontecimentos, demonstram confiança no leitor. Nesse sentido, é interessante notar que muitos dos dispositivos e programas que pipocam nas páginas de "Neuromancer" não têm suas funções didaticamente explicadas para o leitor, nem mesmo por meio de diálogos entre personagens, um recurso muito comum em ocasiões assim. Nós entendemos o que são na medida em que são utilizados, sem que seja necessário ser expositivo demais. É sempre bom não ser tratado como criança.

Mas creio que tenha sido o futuro pensado por Gibson a coisa mais fascinante e amedrontadora do livro. Mesclando inteligências artificiais, implantes cibernéticos, colônias espaciais, megacidades e subculturas, esse futuro espanta não por parecer impossível, justamente pelo contrário. "Neuromancer" terminou de ser escrito em 1983, e muito avanço tecnológico se deu de lá para cá; hoje, a nossa volta, muitas das coisas descritas por Gibson já operam e são encaradas de forma incrivelmente natural. Não é à toa o deslumbramento, uma vez que esse futuro tem algo de muito familiar com nosso presente.

A trama é bastante densa, e não vou me aventurar a falar dela por medo de escrever possíveis spoilers. Basta dizer que as coisas vão se revelando aos poucos, bem aos poucos, o que cria um ótimo clima de mistério. O final é extremamente satisfatório, tanto por apresentar um desfecho que honra todo o excelente desenvolvimento quanto por auxiliar numa visão mais tridimencional de Case. As últimas páginas conseguem soar incrivelmente tristes, mesmo sem apelar para sentimentalismos. "Neuromancer" é uma ótima pedida, e creio que vou continuar lendo esse tal de cyberpunk.

Boas leituras.

Um comentário:

  1. Oi adorei .. muito obrigado...me fez se interessar pelo livro....mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei... se trata de um livro arrebatador...ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos.....e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história.....acesse o link da livraria cultura e digite reverso...a capa do livro é linda ela traz o universo de fundo..abraços. www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?

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