sábado, 11 de junho de 2011

Resenha: IMAGINÁRIOS 3

(Originalmente postada no extinto blog Gotas Humanas)

Lançado esse ano, o terceiro volume da coleção Imaginários (Editora Draco, 128 páginas) reúne dez contos que transitam entre os muitos e variados gêneros da ficção fantástica. Escolhi começar pelo mais recente dos três volumes devido a alguns dos nomes presentes na lista de autores, com os quais já me deparei de forma positiva ao longo de 2010, e outros que, pela boa reputação dentro desse fandom literário, me despertaram certo interesse. De um modo geral, a "Imaginários 3" me agradou muito, a maioria de seus contos conseguindo cumprir a missão de proporcionar entretenimento de boa qualidade, fugindo ou não do óbvio.

É a primeira vez que resenho um livro de contos, de modo que não sei se minha avaliação crítica de narrativas menores conseguirá soar convincente. De todo modo, seguem comentários de cada conto separadamente.

1) A Torre das Almas - Eduardo Spohr

Spin-off do sucesso de vendas "A Batalha do Apocalipse", já resenhado aqui, o conto que abre os trabalhos da "Imaginários 3" conta as desventuras de um grupo de anjos que veem à Terra investigar determinado episódio sobrenatural. Novamente apostando em personagens unidimensionais, que agem somente segundo suas naturezas, Spohr entrega um texto de trama e prosa envolvente que expande o já vasto universo de seu livro. Pode pecar por alguns diálogos artificiais, mas mantém a boa pegada nas cenas de luta. Uma boa leitura, embora não se possa negar que seja apenas mais do mesmo.

2) Breve Relato da Ascenção do Papa Alexandre IX - Marcelo Ferlin Assami

Difícil falar desse texto, uma intrincada viagem de ácido que chuta a linearidade e mistura velhas senhoras monstro com espigas de milho mutantes e conspirações Papais. Assami constrói um conto difícil assimilação, sendo necessário no mínimo um segundo olhar para conseguir entender a trama. E eu não consegui, diga-se de passagem. De todo modo, vale destacar a escrita fluida do autor e a criatividade na criação do "Breve Relato", além, claro, da fuga de uma estrutura mais usual. Assami ousa bastante em seu conto, tornando-o algo labiríntico e, por conseguinte, menos acessível. Quem sabe numa próxima leitura eu consiga entendê-lo melhor.

3) As Noivas Brancas - Rober Pinheiro

Um conto divertido e bem escrito, que narra a incursão de um grupo de mercenários galácticos, liderados por um capitão viciado (também o narrador) a uma instalação onde se encontram as noivas brancas, uma carga que eles devem entregar a um empregador. Dinâmico na maior parte do tempo - em alguns momentos a narração no presente do indicativo torna-se cansativa, a meu ver - e recheado de boas cenas de ação, o texto é de leitura fácil e acessível e merece destaque pela boa construção do clímax.

4) Bonifrate - Douglas MCT

A reimaginação da história de Pinóquio do autor do recém lançado "Necrópolis - A Fronteira das Almas" é um dos contos que mais me agradaram. Bem escrito e envolvente, "Bonifrate" é uma fábula sobre a busca por si mesmo, funcionando admiravelmente bem no desenvolvimento de seu personagem principal. MCT também ganha muitos pontos pela ambientação sombria de sua história. A reviravolta final, apesar de absurda, rima de forma adequada com o desenvolvimento "weird" do conto. O romance de estréia do cara já está na minha lista.

5) Dies Irae - Lidia Zuin

Cyberpunk até o talo, incrivelmente bem narrado, com descrições cruas combinando perfeitamente com a decadência da protagonista, uma hacker que divulgou na rede diversos videos snuff de uma sádica gangue, de quem agora precisa fugir. Uma pena que termine de maneira tão abrupta, dando a impressão de inacabamento.

6) Vida e Morte do Último Astro Pornô da Terra - Marcelo Galvão

Meu favorito. Num passado reimaginado, onde andróides tomaram de assalto a indústria de entretenimento adulto, um exímio ator procura voltar aos seus tempos de glória. Com uma pegada hardboiled que me agradou demais, Galvão dá vida a um conto surreal e divertido, com uma narração seca que se aproxima do noir e boas cenas de briga. Está aí um cara cujo trabalho vou querer acompanhar daqui para frente.

7) Corre, João, Corre - Cirilo S. Lemos

Quando uma procissão de fantasmas vem atrás da alma de seu filho, João tem que se mexer para impedir que o pequeno se vá. O conto é inteiramente centrado em seu protagonista, e nesse sentido é louvável que Cirilo não tenha criado um João certinho e unidimensional. Trata-se de um personagem humano e com diversos defeitos, e seu crescimento no decorrer do conto é sem dúvida o ponto forte do texto. A narração é leve, agradável, fluida. Um dos melhores.

8) Uma Segunda Opinião - Fernando Santos de Oliveira

Garota decide se vingar de três colegas de escola após passar por uma situação humilhante, e passa a seguir os conselhos de uma desconhecida. A temática infanto-juvenil não é desculpa para a artificialidade de todos os diálogos, nem para algumas falhas de lógica que saltam aos olhos (uma garota tem que ser muito ingênua para não desconfiar de uma figura que se esconde o tempo todo nas sombras). As personagens são desinteressantes em sua totalidade. Em minha opinião, o texto mais fraco da coletânea.

9) Maria e a Fada - Ana Cristina Rodrigues

Ao lado de "A Torre das Almas", é o conto que mais se aproxima da fantasia propriamente dita. Ana Cristina narra a tentativa de um velho servo de manter viva a memória das origens místicas de uma importante família da Idade Média européia. Naufragando em suas tentativas de apelar para o emocional, o conto definitivamente não conseguiu me convencer. Perde pontos ainda por apresentar personangens distantes e pouco envolventes, o que o torna esquecível, apesar de bem escrito.

10) O Primmeiro Contacto - Fábio Fernandes

Autor de "Os Dias da Peste", já resenhado aqui , Fábio Fernandes entrega o conto mais inusitado da coletânea, ao lado do de Assami: como seria se um brasileiro tivesse escrito uma space opera em 1929, com o estilo próprio da época? O conto tem em sua maior qualidade o que pode ser também seu ponto fraco, pois, se por um lado o estilo datado e espalhafatoso de narrar soa incrivelmente divertido, por outro a reprodução da ortografia da época e o desfile de personalidades em voga nas primeiras décadas do século XX pelas páginas o tornarão um pequeno desafio que, me parece, poucos gostarão de enfrentar. De todo modo, o autor merece créditos por construir uma história envolvente de maneira tão pouco óbvia.

É isso.

Boas leituras.

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