sábado, 11 de junho de 2011

Resenha: O LIVRO DO ASSASSINO - Jonathan Kellerman

(Originalmente postada no extinto blog Gotas Humanas)

Jonathan Kellerman é um daqueles caras que emplacaram dentro do um estilo e não pararam mais de vender livros. Seus thrillers estrelados pela dupla Alex Delaware (psicólogo consultor do Departamento de Polícia de Los Angeles) e Milo Sturgis (detetive declaradamente homossexual com alto índice de casos resolvidos) estão entre os mais populares da atualidade. Com a vasta experiência que tem - escreve um por ano desde 1985 -, fica difícil encontrar qualquer livro do cara que não funcione bem. "O Livro do Assassino" (Record, 524 páginas) não foge a regra.

Na trama, Alex recebe pelo correio um álbum abarrotado de fotos de cenas de crime - todas de homicídios. Uma delas chama a atenção de Milo: trata-se de um dos casos sem solução do início de sua carreira, o assassinato brutal de uma adolescente problemática. Obviamente, os dois resolvem reiniciar a investigação, mexendo no ninho de marimbondos do passado.

Kellerman desenvolve a narrativa valendo-se de um recurso que já se tornou recorrente em seus romances: a constante troca de ponto de vista. Tem-se um equilíbrio entre as passagens narradas em primeira pessoa por Alex e as em terceira, retratando a investigação da perspectiva de Milo. Boa parte das cento e vinte primeiras páginas, aliás, é dedicada a construção dos primeiros meses do detetive no DPLA - uma rotina pontuada por sua constante luta para não deixar transparecer a própria sexualidade. Esse longo trecho representa em minha opinião o ponto alto do livro. É incrível como Kellerman consegue nos colocar dentro daquele mundo sujo e doentio que descreve, e marcante a forma como desenvolve o jovem Milo.

Pelo lado de Alex, as coisas não são muito diferentes, e é interessante notar que o autor mostra de forma clara os defeitos e até mesmo crueldades da personalidade do protagonista, algo que o "tridimencionaliza" e afasta da imagem do bom herói disposto a tudo para salvar o dia. As motivações de Alex são outras, menos nobres. Essa preocupação de Kellerman com seus mais-do-que-consolidados personagens dá algo a mais a "O Livro do Assassino".

No mais, temos o que já é de se esperar de um bom thriller: trama densa, reviravoltas, violência crua, assassinos psicopatas. Como já disse, é difícil imaginar Kellerman errando a mão, embora aqui e ali notem-se alguns acessos - talvez até necessários, ou mesmo inevitáveis, para aparar algumas pontas soltas - e uma eventual falta de tato, evidenciada pela inclusão de um determinado personagem na estória - os mais experimentados no gênero policial vão sacar logo de cara que a coisa acontece de forma suspeita demais. Enfim, o livro não fecha perfeito, mas isso seria, obviamente, pedir demais. Quando se fecha "O Livro do Assassino" pela última vez, a sensação que se tem é de apreensão, tanto pela violência narrada quanto pelas suas implicações na vida dos personagens (e para entendê-las de forma mais clara, fica a dica de ler os livros na ordem em que foram lançados pela Coleção Negra).

E falando na boa e velha Coleção, da qual gosto muito, venho reparando em diversos problemas na tradução em alguns de seus livros nos últimos anos. Para ilustrar, deixe-me citar um pequeno exemplo retirado da obra aqui resenhada, encontrado na página 174: Alex Delaware, em suas pesquisas, descobre que "alguém" (não cabe aqui dizer quem, claro) foi produtor de filmes independentes, entre eles um descrito como "clássico da ciência-ficção". Sim, vocês leram certo: ciência-ficção. A ficha só caiu para mim coisa de dez minutos depois. Ciência-ficção = Science-ficction. Entenderam o que quero dizer?

Isso para não comentar um outro aspecto pontuado pela Olivia Maia em seu blog, sobre a falta de coerência em certas traduções. Leiam o post dela e entenderam do que estou falando.

Boas leituras.

Um comentário:

  1. Olá Josué. Muito boa a resenha. Li esse livro há alguns anos e foi bom saber um pouco mais sobre o seu passado de Milo. A troca de pontos de vista é uma marca de Kellerman mesmo, mas o que acho bacana é que Alex e Milo se completam. Você sabe se há previsão de um novo lançamento do autor aqui no Brasil? Gostaria também de convidá-lo a visitar meu blog onde falo um pouco de Alex Delaware também.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/2015/02/sete-detetives-e-seus-metodos.html

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